Para evitar protagonismo, Bolsonaro quer gestão Teich sob tutela militar
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu escalar militares para compartilhar a gestão da pandemia do coronavírus. A intenção é que o ministro Nelson Teich (Saúde), empossado nesta sexta-feira (17), seja tutelado por fardados.
A decisão parte do incômodo causado pelo protagonismo do agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Nesta sexta, militares já começaram a levar nomes para o segundo escalão de Teich.
Ao chegar ao Palácio do Planalto pela manhã, Bolsonaro teve a primeira agenda do dia com os três ministros generais que ficam no prédio da Presidência: Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e Luiz Eduardo Ramos (Governo).
O presidente escalou o contra-almirante Flávio Rocha, chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), vinculada à Presidência da República, para ser uma espécie de coordenador da transição.
De acordo com aliados do presidente, Rocha será um facilitador na troca de gestão. Ele fará a articulação da Saúde com os outros ministérios.
Uma parte dos militares quer que alguns nomes da gestão Mandetta permaneçam na pasta para a transição, pelo menos. Um deles é o secretário-executivo, João Gabbardo.
Auxiliares do presidente fizeram sinalizações a Teich sobre o que esperam com base em queixas à gestão anterior.
A expectativa é de apresentação de uma política clara para a Saúde, de preferência com cenários e ações direcionadas para cada estado ou região.
Há ainda um anseio para que o novo ministro tome primeiras ações concretas, como remoção de leitos de regiões menos afetadas para o coronavírus para as mais atingidas, como do Centro-Oeste para o Sudeste, por exemplo.
Com isso, querem demonstrar que o governo federal é quem vem trabalhando pela saúde dos brasileiros, em contraponto a governadores como João Doria (SP) e Wilson Witzel (RJ), em rota de colisão com Bolsonaro.
A comunicação do Ministério da Saúde deve ser também municiada pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social). O órgão é comandado por Fabio Wajngarten. Nesta sexta, Teich foi ao ministério após tomar posse acompanhado do número 2 da Secom, Samy Liberman.
Na posse de Teich, o presidente defendeu a reabertura de fronteiras e comércios no Brasil. Ele voltou a criticar medidas dos governadores. “Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro. Porque se agravar, vem para o meu colo”, disse Bolsonaro. “O que eu acredito? Muita gente já está tendo consciência que tem que abrir”, afirmou.
Na mesma declaração, Bolsonaro afirmou que defendeu ao ministro Sergio Moro (Justiça) a reabertura de fronteiras terrestres no Brasil, que estão fechadas em razão da emergência sanitária.
Bolsonaro investiu novamente contra governadores. Ele disse que jamais mandaria forças de segurança prenderem pessoas que estejam violando regras de quarentena.
Doria chegou a afirmar que cidadãos que desrespeitassem regras de quarentena no estado seriam advertidos e orientados a voltar para casa. Porém, em casos de reincidência poderia haver prisão.
Apesar das críticas, Bolsonaro reconheceu que não pode decidir sobre ações de isolamento social na resposta à crise da Covid-19, uma vez que o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que estados têm competência para tomar essas medidas.
Ao novo ministro, Bolsonaro pediu que ele também leve em conta a necessidade de preservar empregos.
“Junte eu e o Mandetta e divida por dois: pode ter certeza que você vai chegar naquilo que interessa para todos nós. Não queremos vencer a pandemia e daí chamar o doutor Paulo Guedes [ministro da Economia] para solucionar as consequências de um povo sem salário, dinheiro, e quase sem perspectiva em função de uma economia que está sofrendo sérios reveses”, afirmou o presidente.
Teich e Mandetta também falaram na cerimônia.
Sem mencionar propostas efetivas, o novo ministro fez um discurso afirmando que fará uma gestão voltada para as pessoas.
“Uma coisa importante que temos que entender é que a Covid abrange todas as atenções, mas têm outras doenças. Se você tem menos acesso, menos diagnóstico, será que não vai prejudicar o diagnóstico de pessoas com câncer? O que vai acontecer quando a pessoa fica em casa com medo de ir ao pronto-socorro e não chega ao hospital?”, questionou.
“Tem que acompanhar também os indicadores sociais. Se tivermos mais desemprego e pessoas que perderem os planos de saúde, isso vai impactar no SUS.”
Teich iniciou sua fala apresentando sua formação como médico de família e oncologista. “O foco de tudo o que vamos fazer é nas pessoas. Por mais que fale em saúde, em economia, o final é sempre gente. Trazer uma vida melhor para a sociedade e as pessoas do Brasil”, disse.
Mandetta disse que fez o que poderia ser feito e que foi até o seu limite. Na saída de cerimônia de posse de Teich, ele aconselhou seu sucessor a adotar transparência total e a fazer uma defesa intransigente da vida e da ciência.
“A gente fez o que podia ser feito. Não gosto de engenheiro de obra pronta, que chega e diz: ‘Você devia ter feito isso ou aquilo'”, disse. “O meu limite. Você tem uma hora que você fala: ‘Até aqui eu vou, daqui para lá não vou'”, afirmou.
Fonte – Folha PE