Pernambucano José Múcio Monteiro é confirmado ministro da Defesa no governo Lula
Um político habilidoso. É assim que pessoas que conhecem José Múcio Monteiro, 74 anos, definem o escolhido pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para comandar uma das áreas mais sensíveis do novo governo, o Ministério da Defesa. Anunciado por Lula nesta sexta-feira, Múcio é considerado alguém capaz de trafegar com facilidade em temas espinhosos, transita entre petistas, bolsonaristas e militares. Com experiência de uma vida dedicada à política, tem boa interlocução com partidos e conhece bem a máquina administrativa federal.
Na transição, a Defesa é a única área em que não foi formado um grupo de trabalho específico. A partir de agora, será liderada diretamente pelo futuro ministro. Esse setor é um dos mais sensíveis para o futuro governo, dado o alinhamento dos militares com o presidente Jair Bolsonaro.
Ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Múcio assumiu seu primeiro cargo público em 1975, quando se tornou vice-prefeito de Rio Formoso (PE). Na época, era filiado à Arena, partido que dava sustentação à ditadura militar no país. Foi eleito cinco vezes deputado federal, a primeira em 1990, e passou 16 anos na Câmara. Era líder do PTB quando ocorreu o escândalo do mensalão, detonado pelo então presidente de seu partido, Roberto Jefferson, em 2005, no primeiro governo Lula. O esquema envolvia o pagamento de propina a parlamentares em troca de fidelidade ao governo nas votações do Congresso.
Jefferson o havia colocado em maus lençóis diante do Conselho de Ética da Câmara ao afirmar que a bancada do PTB tinha discutido e rejeitado a proposta de mesada feita pelo governo petista. Ao colegiado, Múcio negou ter recebido qualquer oferta de dinheiro e disse ter ouvido falar de “mensalão” pela primeira vez em 2004: “A partir de então os comentários começaram a reverberar com mais frequência”.
Pernambucano como Lula, Múcio se tornou um dos parlamentares mais próximos ao então presidente da República. O estilo moderado e conciliador o credenciou para ocupar o posto de líder do governo na Câmara em 2007 e, na sequência, a assumir o cargo de ministro das Relações Institucionais, responsável por fazer a interlocução com o Congresso.
Na pasta, que tinha status de ministério, teve como principal atribuição reconstruir a base aliada do governo durante o segundo mandato do petista. Ele mantinha uma bandeira de seu estado na porta do gabinete e costumava oferecer bolo de rolo aos parlamentares: “É o prato típico desse ministério, porque aqui só tem rolo”, brincou, certa vez.
Amigo do presidente, ele passou ainda por siglas como PSDB e o extinto PFL. Em 2009, Múcio foi indicado por Lula para ocupar uma cadeira de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Corte da qual ele também foi presidente, de 2019 a 2020. Múcio antecipou o seu pedido de aposentadoria do TCU para atuar na iniciativa privada. Na semana passada, viajou a Recife para encerrar as suas atividades de consultoria para evitar eventuais conflitos de interesse ou impedimentos legais para a nomeação como ministro de Lula.
O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que foi deputado federal com Múcio, inclusive no mesmo partido, sinalizou em mais de uma ocasião que o ex-colega teria lugar em seu governo, caso quisesse se manter na máquina pública. Múcio chegou a ser elogiado publicamente por Bolsonaro durante o 4º Fórum Nacional de Controle, em dezembro de 2020. Na ocasião, o presidente se referiu a Múcio como um amigo e afirmou que o agora ministro de Lula tem comportamento conciliador e que busca consensos. Reforçou que, se Múcio quisesse, seria bem-vindo no seu governo.
“Eu sou apaixonado por você, José Múcio. Gosto muito de Vossa Excelência”, afirmou Bolsonaro à época, que lamentou a aposentadoria precoce do então ministro, e afirmou que o ex-colega de Câmara seria bem-vindo se quisesse trabalhar no governo.
Fonte – Edmar Lyra
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